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Melancolia tem sido a palavra mais empregada quando se fala da música de Mark Kozelek desde a época em que atendia pelo nome de Red House Painters, perseguindo-o até hoje com o Sun Kil Moon. Nada de errado, as composições de Kozelek são odes à tristes recordações em ritmo lento. Não por acaso, na década de 90, carimbaram-lhe o rótulo de slowcore/sadcore. Analisando a trajetória desse rapaz de voz monocórdica que gosta de escrever sobre lembranças, lugares e relacionamentos, uma outra palavra surgirá para constar em futuras resenhas de seus álbuns ou numa possível vindoura biografia: persistência, vide as dificuldades que passou com gravadoras e como conseguiu driblar a situação.



April” é fruto dessa persistência, que levou o cantor a criar em 2005 o selo Caldo Verde para lançar seus álbuns, após se cansar de lidar com gravadoras. Marca o retorno daquela melancolia típica na música de Kozelek, bastante explorada nos vários álbuns lançados pelo artista com qualquer de suas bandas e também a solo: essencialmente folk, com permissão para riffs de guitarra mais pesados, contrapondo-se com a quase totalidade de levadas acústicas.



O sadcore caracteriza-se tanto pela repetição como pelo andamento lento, quase hipnótico. Como expoente dessa vertente musical com um approach mais folk, com proximidade com Neil Young, Kozelek segue à risca a cartilha que ele mesmo ajudou a escrever nos anos 90. Ao optar por trabalhar nesse universo já tão explorado por si mesmo, ele aceita o risco de cair na auto-repetição externa (comparação com seus outros álbuns e de outros artistas) e interna (a similaridade entre as canções do próprio álbum), e assim cai em ambas com o mesmo requinte que sua música respira.



Já que precisa contar suas histórias, se elas forem longas, ele carece de tempo para desenvolvê-las, o problema é quando as partes se confundem, e não se distingue verso de refrão. Essa linearidade é que torna algumas faixas bastante difíceis de serem levadas até o fim. Canções longas prescindem de dinâmica para não ficarem enfadonhas. Estendê-la demais pode torná-la uma espécie de mantra, se o ouvinte não se integrar no círculo, de nada adianta, vai se sentir incomodado e pular a faixa tão logo chegue aos três ou quatro minutos, não encontrando a variação que pode estar lá pelos seis ou sete. A emoção e beleza do início cedem espaço então para a chateação.



O mais do mesmo é levantado desde os primeiros acordes, acompanhado por uma sensação que ainda não foi possível definir com precisão, espécie de torpor que confunde os sentidos e quase engana. Liberto desse transe dá pra afirmar que “April” está mais para uma “feliz” retrospectiva de carreira com títulos diferentes e poucas concessões para lugares inexplorados do que antes. O afastamento do passado perseguido e quase alcançado em “Ghosts of the Great Highway” (2003), seu álbum que obteve recepção mais calorosa, cede espaço para a maior aproximação com o RHP, com uma roupagem não tão exuberante quanto seus últimos e sem os momentos épicos de seus primeiros discos.



É que quando você já conhece e já se habituou, por melhor que seja, nunca será como no início, na descoberta. Ainda que seja bom, sempre se quer e espera algo mais. Contar com figuras carimbadas da cena independente como Will Oldham, Eric Pollard e Ben Gibbard (em participação discretíssima), nesse caso, poderia ser esse algo mais, mas não foi. É um álbum longo, mais de setenta e três minutos, fruto das idéias de Mark Kozelek, e como tal não consegue se dissociar de seu passado, caindo num mais do mesmo ora agradável ora cansativo. Isso é bom e ruim.



Melhores momentos: “Lucky Man” “Morestown” e “Blue Orchids”





NOTA: 7,5