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Um prêmio para quem disser o nome de todos os álbuns de estúdio do The Fall. Difícil? Então o nome de uma música de cada álbum de carreira. São vinte e sete no total, contando com esse “Imperial Wax Solvent”, que pega e estende o lado visceral do The Fall de trabalhos mais recentes como “Fall Heads Roll“ (2005) e “Reformation Post TLC” (2007). Uma pergunta mais fácil agora: com a capa de qual álbum essa se parece? Acertou quem respondeu “Extricate” (1990).



As mudanças de formação sempre foram uma constante na carreira do The Fall. Mark E. Smith, geralmente descrito como uma persona difícil, continua sendo o coração e alma da “queda” desde o seu surgimento, em 1976. Para não fugir à regra, para esse novo álbum a banda passou por mais uma mudança de componentes. Da formação que participou de “Reformation Post TLC” (2007) restaram a tecladista e esposa de Smith, Eleni Poulou, e o baixista Dave Spurr, entrando Pete Greenway (que no álbum anterior era convidado) e mais o baterista Keiron Melling. “Gosto de pensar que temos um time A e um time B”, explica o vocalista.



Eis que a urgência bate a porta com mais força nesse novo álbum cheio de vigor do cinquentão Smith, que se dá ao direito de brincar com a idade na longa faixa “50 Year Old Man”, uma suíte selvagem de mais de onze minutos, com influências dos Stooges, que intercala um solo de banjo bem esculachado. No refrão Smith se entrega: “I'm a 50 year old man and i like it, i'm a 50 year old man, what you gonna do about it”.



A comparação com um outro cinquentão de origens oitentistas chamado Nick Cave acaba se tornando imediata, vide a semelhança como ambos chegam aos dias atuais: prolíficos e cheios de vitalidade. Basta lembrar que no ano passado Smith, assim como Nick, esteve envolvido em projeto paralelo a sua banda principal, o Von Südenfeld, com a dupla Mouse on Mars.



Mostrando uma banda afinada (destaque para a cozinha) e cheia de personalidade “Imperial Wax Solvent”, correndo despretensiosamente por fora, arrisca bater em listas de melhores do ano. A produção, a cargo de Grant Showbizz (Billy Bragg, The Smiths) e do próprio Smith, capturou os aspectos mais sujos da sonoridade da banda, dando ao disco, em vários momentos, feições bem sujas, como se as canções tivessem sido gravadas num take só.



Apesar da aura de crueza de garagem, a empreitada rende um álbum diversificado e coeso. Momentos totalmente apunkalhados sob o comando vocal de Eleni (“I've Been Duped”) ou do próprio Smith (“Exploding Chimney”), as influências psychobilly tão comuns nos trabalhos da banda (“Tommy Shooter”), ou o mais genuíno pós-punk estilo The Fall (“Latch Key Kid” e “Is This New”). Sobra “tempo” para a inserção até de elementos jazzísticos logo na abertura do disco com "Alton Towers", uma estranha cover de “Strange Town”, da obscura banda sessentista The Groundhogs com o sabor familiar do The Fall e alguns toques de Sonic Youth em “Can Can Summer”.



Uma palavra só para definir esse novo álbum do The Fall? Urgente. O que não é nada mal para uma banda com trinta e dois anos de carreira.



NOTA: 8,2