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Ouvir motores de veículos em plena música? Parece que já escutei isso na clássica música ‘Autobahn’ do grupo alemão Kraftwerk? Exato. Porém, é com um barulho de caminhão sendo ligado, que o Merz começa seu disco na poética abertura ‘Moi Et Mon Camion’ envolta em belos dedilhados de cordas.



Merz é mais um daqueles nomes que só vem a esconder o verdadeiro autor por trás dele. Neste caso, o músico é Conrad Lambert. Vem de Bristol. Praticamente este é seu terceiro trabalho. Até este ano, o Merz era um absoluto desconhecido para mim. Mas, através de um amigo, fui tentado a pegar o disco de 2008 nos primeiros meses do ano. Só agora que fui ouvir atentamente, com muita percepção e sem pressa - o que poderia gerar uma definição precipitada e errônea do disco.



Pois então. O álbum, se não é de todo perfeito, é uma bela surpresa e altamente indicado para quem procura belas melodias. Alguns o chamam de electro-folk. Se considerarmos que o Merz sabe dosar o melhor do folk e da eletrônica ao longo de suas canções, tal afirmativa é válida. Enquanto temos composições como ‘No Balls Left To Chime’ e ‘Silver Moon Ladders’ que seriam dignas de fazer parte de qualquer disco de um grupo folk, outras são mais condensadas num ambiente eletrônico imerso em detalhes e arranjos minuciosos - e nunca maçantes, a exemplo de ‘Call Me’ e ‘Shun’.



A melancólica ‘Malcon’ poderia muito bem estar no repertório de um The Divine Comedy (só não temos a aqui a voz de Neil Hannon). Com clima outonal e repleta de nuances sonoras à la Burt Bacharach, um dos melhores momentos do álbum. Porém, há músicas ensolaradas, para jogar o ouvinte para cima, como acontece na climática e pop ‘Presume Too Much’. A veloz ‘Lucky Man’ (nada a ver com a canção do The Verve do álbum ‘Urban Hymns’ de 1997) é conduzida por rápidos riffs de guitarra e por palmas. ‘Cover Me’ engana começando calma, com belas entonações vocais, semi-acústica, e nos instantes finais, nos surpreende com um pop-rock denso para fechar a canção.



Esta é uma resenha atrasada. O disco foi lançado em abril desse ano. Seis meses depois, descubro o Merz. Porém, o trabalho de Lambert não pode ficar na obscuridade, pois mostra um músico que soube beber (e bem) de várias fontes, de Beatles e Bob Dylan, até Okkervil River e Sufjan Stevens. Sem pudor. Sem medo. Silenciado entre tantos cânones/hypes que a mídia tenta criar, o Merz pode ser descoberto, mesmo quase no final de ano.



Artista: Merz

Disco: Moi Et Mon Camion

Ano: 2008

Gravadora: MSI Music/Super D