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Sendo o Muzplay democrático quanto às idéias escritas aqui, logo, nesta semana resolvi mudar de arte. Estou me deslocando para a sétima. O cinema. Dando um ‘pause’ nos lançamentos musicais do ano ou mesmo em meus textos acerca de música, pretendo aqui expor sobre um dos filmes que me arrebatou nestes dias. Sei que sou suspeito de falar (bem) sobre algum desenho, pois sou fã desde a minha infância e aprecio os mais variados tipos: o mais simples feito com massinhas de modelar, passando pelas animações ligadas à cultura oriental (a exemplo dos mangás) e indo para as mais avançadas em tecnologia que se utilizam tão bem do CGI (Computer Generated Imagery).



E é a Pixar (praticamente uma cria da Disney) que nos brinda com a mais nova produção pós-‘Ratatouille’. Claro que a produtora tinha em mente que deveria fazer algo além do sucesso do ratinho cozinheiro para ganhar mais mercado e renome. Porque para as empresas grandes e já notórias em seus ramos, as coisas funcionam assim. Sai do papel então ‘Wall-e’. Nada de animais, humanos então ficaram em segundo plano, nada de piadas tão risíveis. Aqui, um casal de robô é a estrela. O robô Wall-e – uma espécie de compactador de lixo um tanto quanto ultrapassado - que ficou sozinho num planeta Terra devastado, desabitado, sujo, pós-apocalíptico e Eve, uma robô moderna, programada com a missão de vir para a Terra e tentar encontrar rastro de vida e de que o planeta ainda poderia ser habitável.



Wall-e’ é sério sem perder cenas de humor bem arquitetadas, inteligentes e usadas em partes corretas e dosadas do longa. Pense um pouco nos melhores momentos de um Charles Chaplin ou de um Buster Keaton na era do cinema mudo. A animação terá poucas falas. E o mais divertido fica nas ações do robô, em sua mania de guardar relíquias variadas (filmes em VHS como ‘Alô, Dolly!’ de 1969, um Atari 2600, isqueiro, etc), o seu encontro curioso com a chegada de Eve, o seu jeito de comunicar, a sua forma de se relacionar com uma mísera barata fiel à sua companhia. Depois, ainda teremos a correria incansável de Wall-e para rever Eve. Tudo em tons sutis.



Tento não elucidar muitas pistas, até mesmo porque este é um desenho não para se contar, e sim, para ser assistido por todas as gerações. Apesar de considerá-lo até mais voltado para o público adulto. Tentando expor concisamente, Eve pode ser considerada o elo entre uma colônia espacial com alguns humanos remanescentes e a (ainda) possível sobrevivência humana na Terra. Se por acaso ela encontrar uma forma de vida (um vegetal, a bem da verdade) em condições apropriadas ao clima da Terra, tem que ser enviada rapidamente à nave ‘Axiom’ para o comandante ser avisado de tal possibilidade. E este é um belo momento do filme. O verde de uma plantinha é realçado no meio de tão poucas cores presentes e na imagem embaçada por montanhas de lixo acumuladas. Cena que me fez até lembrar da rosa vermelha em meio a um cenário cinzento vista em ‘A Lista De Schindler’.



Citando o filme de Spielberg logo acima, a animação ainda faz alusões a outros clássicos do cinema. O próprio Wall-e tem um ‘corpo’ que lembra o ‘ET’ (também de Spielberg). Assim como tem o charme e a inteligência de um R2-D2 (de ‘Guerra Nas Estrelas’). Mais ainda, as semelhanças com Johnny 5, robô protagonista do filme ‘Um Robô Em Curto Circuit’ (1986). E nem poderiam deixar de existir associações com ‘2001 – Uma Odisséia No Espaço’. Os seres humanos sedentários obesos – que nem conseguem andar - habitam a Axiom e são controlados/auxiliados por robôs. No longa-metragem de Kubrick, a nave é controlada por um supercomputador, o Hal 9000. Lembram-se?



Por mais que existam hypes, inúmeros sites só falando de ‘Wall-e’ neste momento, toda uma propaganda capitalista em torno dele (jogos, brinquedos, brindes em fast-foods), o desenho realmente merece (com sobras). E não é somente o traço rebuscado que mostra uma Pixar mais inovadora e tomando a liderança das produtoras de animação. São as cenas, as imagens memoráveis, a idéia, as mensagens, o alerta de um mundo próximo que não queremos (mas, que infelizmente, parece ser provável e iminente). Uma produção cinematográfica para refletir, para se extasiar, se arrebatar. Mais do que isso. Para se pensar num futuro totalmente controlado por máquinas, por um planeta devastado e por ações simples do nosso cotidiano - como dançar e amar alguém - que ainda valem a pena e que nos deixam felizes.



Gênero: Animação

Duração: 97 min

Origem: EUA

Estúdio: Walt Disney - Pixar

Direção: Andrew Stanton

Roteiro: Andrew Stanton

Produção: Jim Morris



Nota: 10,0

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