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A dupla inglesa Addictive TV, que nesta semana faz uma série de apresentações em São Paulo, vem desde o início da década trabalhando com sets Áudio-Visuais (AV), remixando imagens e sons, tanto para grupos importantes da cena eletrônica, como Chemical Brothers, ou mesmo para os famosos estúdios de Hollywood, como no recente remix para o filme "Snakes on a Plane", estrelado por Samuel L. Jackson.



Mas o Addictive TV não pára por ai, considerados pela DJ Magazine como os VJs número 1 do mundo, essa dupla inglesa ainda é responsável pelo festival Optronica, e por remixes visuais que incluem clássicos do cinema, como o filme "Italian Job", até futuras projeções com o ex-Kraftwerk, Karl Bartos.



Em São Paulo a dupla se apresenta gratuitamente no MIS/MUBE e sobe ao palco do Motomix, com seu set próprio, onde o público poderá ver entre outras coisas, alguns bootlegs e o remix inédito do filme "Cidade de Deus", logo depois, a dupla  divide o palco com Peter Hook, baixista do New Order, em seu DJ set.



Nessa entrevista concedida por Graham Daniels, um dos membros do Addictive TV, você fica sabendo um pouco sobre a história do Addictive TV, a emergente cena dos VJs, entre outros assuntos.



No site oficial da dupla você pode ver trechos dos principais remixes visuais do Addictive TV!







MuzPlay: As projeções ligadas à música surgiram na década de 60, com grupos como Jefferson Airplane e The Doors. Somente depois de muitos anos, o conceito de VJ ganharia força extra, principalmente com a explosão da música eletrônica nos anos 90. Como vocês analisam a história dos VJs e seus trabalhos hoje em dia?



Graham: Falando em projeções, o que eu acho que define de alguma forma o que o VJ faz, aí sim o trabalho do VJ começou com o gosto pelos grupos dos anos 60 e pelas casas noturnas "spycedelic", como a UFO em Londres, mas as raízes artísticas vêm de muito antes, dos tempos dos primeiros diretores de filmes abstratos como Oskar Fischinger, na década de 20. E no século XX, pintores abstratos como Kandinsky, obviamente tiveram grande influência na paisagem visual de todos os seguintes. A primeira referência que nós encontramos sobre música visual foi através de um padre jesuíta chamado Loius-Bertrand Castel, que desenhou um órgão de luz pela conexão de cores para diferentes notas musicais, por volta de 1742!!!

A gama sobre o que é classificado como o trabalho do VJ vem de artistas que promovem visuais para outros artistas da música e este pode ser comissionado por sets específicos, o que colabora muito com o artista, ou o VJ pode ser contratado por alguém que ele nunca viu antes e sabe apenas se será um evento de "house" ou "drum 'n' bass", e eles terão que improvisar o conteúdo. Nós preferimos ser descritos como artistas audio-visuais ou um ato AV, já que fazemos ambos, música e visuais. Mas no geral, VJs são, com certeza, mais respeitados hoje em dia do que há 10 anos.



MuzPlay: A manipulação de imagens pode ser responsável por momentos marcantes dentro de um show. Recentemente em um grande festival brasileiro de música eletrônica, um VJ projetou a imagem de George W. Bush, fazendo com que o público vaiasse o presidente americano e ao mesmo tempo continuasse dançando. Você acredita que através da manipulação de imagens é possível conscientizar o público?



Graham: Claro, é fundamental para cada um de nós no planeta. O que a televisão faz, só para começar? Na verdade, ícones religiosos e líderes, através da história, e as pessoas trabalhando contra eles, têm que usar imagens para informar, controlar e manipular o público, podendo ser pinturas ou esculturas nas paredes dos palácios, em praças das cidades, estátuas e até chefes de estado em moedas. É tudo a mesma coisa. E em tempos mais modernos, cartunistas políticos, sátiros - e obviamente artistas visuais bem mais atualizados e assim por diante. Imagens são meios poderosos, especialmente quando reforçadas por som, especialmente música - por isso é que nós amamos trabalhar nesse gênero.







MuzPlay: Recentemente a BBC anunciou a liberação de seu arquivo de filmes e documentários para os VJs, além disso, o Addictive TV tem trabalhado com os estúdios de Hollywood, entre outras coisas. Para vocês qual a importância dessas parcerias?



Graham: Acho que essas parcerias são vitais para o mundo dos VJs. Nós estivemos nos comunicando com a BBC por muitos anos, incentivando-os a abrirem seus arquivos, e esperamos que esse pequeno ato de disponibilizar pequenas quantias de arquivos seja o primeiro de muitos. Hollywood é uma situação um pouco diferente, a BBC é um serviço público de transmissão e obviamente os estúdios de Hollywood são empresas privadas, mas mesmo assim, é um movimento vital que fizemos. Nos próximos anos, especialmente com a maneira que a tecnologia se move, acho que as empresas cinematográficas com vasto catálogo ficariam loucas se não começassem a procurar maneiras de explorá-los. Se a indústria do cinema pode englobar "remixagem visual", poderá ser muito mais esperta do que a indústria da música, todos aqueles anos atrás, quando ela tentou parar e controlar o audio sampling, para englobá-lo somente porque assim tiveram que fazer.



MuzPlay: As projeções sempre foram um marco para algumas bandas, desde Kraftwerk até Chemical Brothers, as pessoas têm se surpreendido com as fusões de músicas e imagens, gravando na memória momentos marcantes dessas apresentações. Quais foram as influências do Addictive TV? E como o Addictive TV surgiu?



Graham: Coincidentemente, nós recentemente demos suporte ao Chemical Brothers, em Roma, atuando com um set AV, e depois tocamos para eles um set VJ exclusivo, foi uma noite ótima. E em dezembro vamos dar suporte ao ex-representante do Kraftwerk, Karl Bartos, na França.

Influências? Bem, na verdade, tudo - nós somos simplesmente influenciados por tudo ao nosso redor! Musicalmente somos influenciados por dub, ska e obviamente breaks, particularmente artistas como Rennie Pilgrem e Meat Katie, mas nós somos bastante influenciados por rock também, tudo desde Led Zeppelin até The White Stripes. Mas não podemos falar de influências sem falar de filme. Fotógrafos como Yann Arthus-Bertrand, o cara que tira fotos somente do ar, é muito inspirador ou o diretor Ron Fricke quem filmou Koyyanisqatsi e também dirigiu Baraka.







MuzPlay: Aqui no Brasil a cena de VJs ainda é bem restrita, mas competente. Vocês têm contato com outros artistas ao redor do mundo? Existe algum intercâmbio entre VJs?



Graham: Nós temos muito, muitos contatos com outros VJs ao redor do mundo, há uma enorme quantidade de trocas e interações. Nós organizamos um festival visual-musical no Reino Unido chamado Optronica e trouxemos artistas de todo lugar. Nós também produzimos o projeto que há muito tempo existe (há 5 anos) na TV e em DVD chamado Mixmasters, e para isto comissionamos centenas de trabalhos de DJs, VJs e artistas AV - do Japão ao México, portanto nós sempre tentamos incentivar o intercâmbio. Apesar de nunca termos tocado no Brasil antes, nós conhecemos algumas pessoas já desse cenário.



MuzPlay: Poderia nos dizer qual o conceito deste festival?



Graham: Nós descrevemos o Optronica como "música visual na telona" - o que significa que o AV acontece em espaços cinematográficos como no imenso IMAX cinema, Cinema Nacional de Londres, assim como em clubes. Os atos AV possuem como componente principal a parte visual, e nós colocamos atos como o ex-representante do Kraftwerk, Karl Bartos, DJ Spooky (famoso DJ de Nova Iorque), e Warp act Plaid, com Bob Jaroc. Nós também programamos atos menores com uma abordagem mais "esquerdista" ou "artística", como Takagi Masakatsu, do Japão, ou Skoltz_Kolgen, do Canadá, junto com atos britânicos como Exceeda ou The Mellowtrons, regidos pelo ex-VJ do Orbital, Giles Thacker .







MuzPlay: Nesta primeira passagem pelo Brasil vocês vão dividir o palco com Peter Hook, do New Order, além de duas apresentações em São Paulo. O que o público pode esperar do Addictive TV?



Graham: Bom, na verdade seremos, somente nós no palco principal tocando um set AV antes de tocar com Peter Hook. O público pode esperar um set puramente dançante de loucura AV, com remixes de filmes breakbeat e misturas de promos; um pouco de Jim Morrison misturado com Blondie, James Bond completamente remixado, Elvis vs The Streets, um remix breakbeat-ska de Laurel e Hardy fundido com Sex Pistols e nosso conhecido bootleg remix do filme cult britânico The Italian Job, e claro, muito mais. Nós também fizemos especialmente um remix não-oficial do filme Cidade de Deus (Fernando Meirelles) e na noite de sábado nós também faremos um remix misturado de New Order e Franz Ferdinand, que estará também tocando nessa noite. Nós ouvimos tantas coisas boas sobre o público de São Paulo, então estamos ansiosos para ver como ele reagirá!



MuzPlay: Aqui no Brasil os VJs captam suas próprias imagens para compor seu set. Vocês também costumam captar imagens para suas produções, pretendem captar algum material aqui no Brasil?



Graham: O estilo visual do Reino Unido é bem uma mistura, muitos VJs apresentam seu materiais próprios, muitos fazem experimentos e muitos também criam gráficos em movimento, e alguns misturam os três estilos. Sim, nós gravamos um monte de filmes, quantidades imensas de imagens! Mas nos nossos shows atuais nós nos pegamos, "audiovisualmente" falando, experimentando e remixando bastante, então não tivemos chances de usar muito do que nós filmamos há 1 ou 2 anos! Nós estivemos na China no final do ano passado e filmamos cerca de 9 horas de material, nós também levamos um pequeno gravador DAT e gravamos um monte de sons fantásticos também, nós usaremos tudo isso em algum momento! E sim, certamente iremos filmar materiais enquanto estivermos no Brasil...!







MuzPlay: Que tipo de equipamento e softwares vocês tem utilizado atualmente?



Graham: Para performances, usamos principalmente pick-ups Pioneer DVJ-X1 DVD, e recentemente nós estamos testando a versão de segunda geração - a nova DVJ-1000 - nós as levaremos ao Brasil conosco. Nós usamos uma Edirol V4, Edirol V4 vision mixer modificada e customizada, que leva audio (para nos permitir cortar e executar o scratch em áudio e vídeo ao mesmo tempo), um laptop rodando o software VJammPro, um audio mixer Pioneer DJM600 ou DJM1000 e a unidade de efeito Pioneer EFX-1000.

Para produzir nossos trabalhos, nós utilizamos softwares como Ableton Live, Cubase, Rebirth, After Effects, Premiere, Speed Razor etc...



MuzPlay: Quais os próximos planos do Addictive TV?



Graham: Temos um bocado de projetos vindo aí. Nós acabamos de ser requisitados pela New Line Cinema, em Hollywood, para remixar dois outros filmes para eles, o que é ótimo. Nós também fomos comissionados por um quadro de artistas na Inglaterra para remixar um clássico famoso dos anos 60, o filme "Get Carter", para a abertura de um festival de cinema. O festival acontecerá em Newcastle, a cidade do Reino Unido onde o filme Get Carter foi todo filmado, e há um estacionamento gigantesco e velho que foi bastante usado no filme e que será demolido, então há um evento especial acontecendo ao lado do estacionamento, lugar onde eu estarei me apresentando. Tirando isso, nós temos shows marcados nos Estados Unidos, por todo o continente europeu e na Rússia, Hungria e Romênia também. E fomos convidados a fazer pequenos tours na Algeria, o que será deferente, porém, fantástico. E obviamente o mais importante para a gente é a próxima edição do nosso festival Optronica, em março de 2007.



Sites oficiais: www.addictive.com

                      www.optronica.org



Por: Adriano Moralis

Fotos: Addictive TV

Agradecimentos Especiais: Françoise Lamy (UK), Thaís Tasaka (Brasil)