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Claro que existem artistas que possuem todo um modus operandi específico usado na composição de suas músicas. Para trazer a arte aos nossos ouvidos. Muito mais que um ganha-pão, alguns talvez façam até por puro hobby, nem ligando em ocuparem lugar na mídia. Fazem pelo gosto e amor que possuem pela arte. Estar na lista de melhores do ano de alguém? Atingir notas altas? Serem o queridinho da vez? Ficar na falação de crítica/público? Isso talvez nem tem importância para esses artistas. Penso que seja assim com a dupla da Califórnia, Deb Talan e Steve Tannen.

Numa rápida pesquisa e com a ajuda de outros internautas sempre antenados, descubro que por trás dessa dupla, existe uma grande história. Quase viraria um filme. Ambos tocavam num mesmo clube em Boston, porém, num certo dia, Deb resolveu ir ao clube para ouvir as músicas de Steve (que estava para lançar um disco). A coincidência recíproca: Deb curtia – e muito – o trabalho de Steve e vice-versa. Depois da surpresa e da adoração mútua, de algumas reuniões entre os dois, o encontro casual acabou servindo para a junção dos dois amantes da música e para a formação do The Weepies.

Pelo trabalho gráfico da capa (uma baleia em tons de desenho pueril) já podemos ter uma idéia do que o duo pretende passar na sonoridade. Desde o anterior, ‘Say I Am You’ (2006), os dois passarinhos do desenho da capa – também em tons de infantilidade - já denunciavam que doçura, fragilidade e passividade seriam as tônicas do álbum.

E é verdade. A bateria é discreta. Sempre segue um molde determinado. Acentua as melodias de uma forma simples, sem apelar para extravagâncias. Um mero detalhe de acompanhamento. As guitarras cumprem seu papel através de dedilhados tranqüilos, nada de visceral, e, sobretudo, de fácil assimilação para ouvintes de primeira viagem. O trunfo do disco é a alternância entre os belos vocais da dupla. Se você é fã da variação entre vocais femininos e masculinos, pode aportar aqui.

Por vezes, parece que Deb quer imitar realmente uma pequena criança tímida cantando, como faz em ‘Orbiting’ e ‘Hideaway’. Delicadeza transposta em harmonia para nossos ouvidos. ‘Can’t Go Back Now’ e ‘Antarctica’ não fazem feio e nos lembram alguns dos melhores momentos de ícones do folk rock seguidores da escola Byrds/Bob Dylan. ‘How You Survived The War’ é a canção mais grudenta/hit certeiro do disco. É um belo cartão se você quiser apresentar o duo para algum amigo seu.

A vantagem de ‘Hideaway’ é agradar logo de início. Além disso, se encaixa bem tanto para dias ensolarados, como para dias frios, dentro de casa batendo papo com os amigos ou lendo um bom livro. O lado negativo (infelizmente existe e tira o brilho maior da produção) é que o The Weepies peca pela monotonia, pela repetição e por não fugir do modelo que o consagrou em 2006. Lá na décima música parece que estamos ouvindo o que foi a sexta e já não há mais tanta sensação auditiva assim. Também faltaram detalhes enriquecedores como arranjos mais rebuscados, outros instrumentos e mais dinamismo.

Uma vez que o universo do The Weepies é centrado na música intimista, discreta, alheia aos comentários da mídia, é louvável que o álbum não ouse demais. Porém, fica acima da média do que sobra pela internet e mostra dois músicos que fazem arte sem estardalhaço.

Artista: The Weepies
Disco: Hideaway
Ano: 2008
Gravadora: Nettwerk Records

Nota: 6,5