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Decorreram-se mais de dois anos desde 'Let my head blow up'. O que para alguns poderia soar inicio de ostracismo e começo de um fim, para a Snooze foi apenas um período de preparativos e projetos paralelos. A banda sempre esteve envolvida em algum projeto. Ora o Snoozing Beatles, ora comemorações pelos 10 anos de banda, shows acústicos e trabalho nas novas composições. Novas composições....aí mora o trunfo dos rapazes.



Aproveitando a passagem do Punka 2005 e o fato de estarem com muitas destas novas músicas prontas, resolvem lançar um single com duas canções. Petisco ofertado, elogios recebidos, muito bem recebido. Dando seqüência, relançaram o single, agora com seis canções, enviados para gravadora, jornalistas e blogueiros de plantão, como eu. E mais, o ano de 2004 foi todo dedicado às gravações do novo disco.Um trabalho árduo e meticuloso, tudo feito com paciência e perfeccionismo para que o sucesso de 'Let my head blow up' sacie a saudade dos fãs. E as gravações estenderam-se até 2005, reunidos Fabinho para finalizarem as gravações.O disco esta gravadinho da silva, faltando apenas pequeninos detalhes, tudo para que a criança venha à tona. Então, é esperar, pois 2005 promete ser um ano precioso para a Snooze. Precedendo o lançamento do álbum novo propriamente dito, os camaradas lançarão um disco de covers, disco este gravado agora em 2005, recapitulando toda a trajetórias das influências no som do Snooze.



Peraí.. então teremos disco novo, disco de covers. E o que mais? Rapaz, ainda tem a coletânea da Monstro discos que já esta disponível e que conta com uma canção deles, "Kissing Goodbye", uma turnê de divulgação e participação já certa no Festival DoSol, que acontecerá em Natal/RN. Então, o ano promete ser Snoozento mesmo.



Batemos um papo com o Rafael Jr, baterista e articulador da banda, falando das gravações, novidades e as perspectivas para 2005.





MuzPlay: Mais de 02 anos se passaram desde 'Let my head blow up', o que conta a história da Snooze nesse intervalo?



Rafael Jr.: Quando esse nosso 2º CD saiu, já tínhamos algumas músicas novas e um tempo depois Mauro Spaceboy caiu fora. Como tínhamos necessidade de tocar com 02 guitarras, logo chamamos Marcelo Moura, que era da Vitais. Sempre ensaiávamos no estúdio dele e acabou rolando. Começamos a compor bastante com essa formação (Fabinho/CJ/Marcelo/Rafael Jr) e descartamos as músicas do Spaceboy que vínhamos tocando em shows, por questão de coerência. Em menos de 01 ano, tínhamos as músicas prontas e arranjadas, com boa receptividade do nosso público nos shows. Começamos a gravar em Fevereiro de 2004. Nunca paramos de ensaiar e tocar, estamos sempre produzindo. Marcelo tocou nos 02 últimos “Punka” e nas comemorações de 10 anos da banda, além de outros eventos e festivais importantes.



MuzPlay: Com o projeto de covers “Snoozing Beatles”, fica a impressão que o lado mais romântico dos ingleses aderiu na sonoridade das novas canções...



Rafael Jr.: Não entendi direito o que você quis dizer, mas é um projeto sincero e que dá retorno à banda (ainda bem), e praticamente financiou esse disco novo. Algumas músicas nós reproduzimos fielmente, em outras damos nossa roupagem própria, até por que fica difícil reproduzir as orquestrações e a sonoridade da época. No fim das contas, nos divertimos muito e isso é o mais importante, além do mais mantém a banda ativa e exposta por aqui.



MuzPlay: Como tem sido o processo de gravação do novo disco?



Rafael Jr.: Como disse antes, começamos em fevereiro do ano passado e fiz todas as baterias e Fabinho os baixos, vozes e backings antes de se mudar para São Paulo, onde está estudando música mais profundamente. Daí pra frente foi um processo árduo e longo, pois são muitas guitarras e o negócio foi muito cuidadoso, desde a timbragem/captação até os arranjos pra cada música. Muita coisa foi feita no estúdio. Experimentamos bastante e usamos guitarras Fender Strato e Telecaster e Gibson Les Paul, ou seja, o melhor no “mundo das guitarras-rock”. Tudo emprestado!!! (hehehe). Valeu Léo X! Depois disso veio os arranjos de instrumentos extra-snooze, onde contamos com a colaboração de vários amigos, grandes músicos. Já era 2º semestre e levamos para o disco a gaita de Júlio Vasconcelos, os teclados vintage de Léo Airplane da Plástico Lunar e Alexandre Batatinha, a escaleta de Diogo Montalvão (co-produtor do disco), os metais e flauta da moçada que trabalha comigo na banda do Corpo de Bombeiros/SE e por aí vai. Cada música tem algo diferente e interessante, e sem forçar barra. Fabinho foi acompanhando tudo de SP e até escreveu um arranjo de cordas. No fim do ano mixamos tudo e colocamos uns samplers de David Bowie e The Who.



MuzPlay: Já fecharam com algum sêlo ou será independente ?



Rafael Jr.: Mandamos uma amostra com 6 das 12 músicas para alguns selos e tá todo mundo gostando, mas só a Monstro Discos deu resposta concreta, ainda estamos buscando outro selo para firmar uma parceria. Nesse 1º semestre de 2005 o disco sai. Estamos cuidando atualmente da masterização e da arte. Enquanto isso, vamos fazendo shows e guardando a grana em caixa.



MuzPlay: E essa coisa da Snooze multi-cidade? Aracaju-Rio-Sampa?



Rafael Jr.: Pois é, durante o ano de 2004 já contamos com Duardo no baixo , também ex-Vitais. Ele fez meia dúzia de show e também está cobrindo Fabinho no Projeto de covers dos Beatles. Agora Clínio Jr foi morar no Rio e já temos alguns planos de ação “focando na coletividade rocker”, como se falou na lista de discussão Nordeste Independente. Poderíamos parar e ficar só gravando discos, mas a vontade é trabalhar o cd com 2 turnês, ficaria assim: No eixo Rio-SP eu e Marcelo iríamos pra lá fazer a tour de divulgação, teríamos então a formação que gravou o disco. Aqui no Nordeste, caso nenhum dos dois possa vir, teríamos eu e Marcelo com Duardo no baixo (esse já está ambientado na parada, super bem ensaiado) e o Léo Ximenes, “o cara das guitarras de ouro”, como guitarrista convidado nos acompanhando. É um cara boa praça, bom músico, e conhece os arranjos do disco, até deu várias idéias e gravou talk-box em uma faixa. Tenho visto isso rolando por aí. O Wado mantinha uma banda em Maceió para show no Nordeste e outra em Sampa gravando os discos e fazendo show por lá. Wander Wildner sempre teve uma banda de apoio em Porto Alegre e outra no Rio. O Belasco é do Ceará, mas está com seu líder morando no Mato Grosso e tocando com um baterista diferente em cada cidade que passa... essa é a tal “Coletividade Rocker” que falei, espero que funcione com a Snooze.



MuzPlay: Quais as diferenças da cena rock de Aracaju de hoje e 10 anos atrás?



Rafael Jr.: “Contradição” é a palavra. Eu não sou muito de reclamar não, mas é impressionante como não temos um único lugar ou bar por aqui pra tocar, desde que o Muquifo/Kaxaçaria fechou. Os espaços têm que ser criados, estamos o tempo todo inventando, mas não há um “point”, sacou? Há 10 anos tínhamos o Mahalo e era rock todo fim de semana, recebíamos bandas do Brasil inteiro. Há uma maldição aqui, dizem que tem algo a ver com a praga do cacique Serigy. A Casa Laranja não deu certo, o Tequila Café enveredou para o lado das bandas de cover-FM, outras casas possuem custos altíssimos, o que inviabiliza uma produção pequena / independente. Por outro lado, era impensável há 10 anos uma banda como a Snooze, Lacertae ou Karne Krua receber um cachê pela Prefeitura, e isso rola depois que o PT assumiu por aqui. Festivais como o Punka não existiam, começou em 98 com o ROCK-SE, mas de forma esporádica. Só o Punka se mantém, são 8 edições e cada vez maior e mais organizado. Quanto às bandas, surgem várias mas se acabam na mesma velocidade. Acho os rockers e o público daqui muito voláteis, modistas. Estão sempre seguindo a nova onda e abandonando-a em seguida. Não há muitos trabalhos aprofundados/cuidadosos na pesquisa sonora desejada, não há carreiras a longo prazo. É claro que há exceções, principalmente no Hardcore e no pop/regional. O reggae criou um público que se multiplica a cada dia e indo pro meu lado pessoal, gosto muito das sessentistas Plástico Lunar e Eloquentes, que agora passaram a se chamar Rockassetes. Sempre tem alguma banda soltando cdzinho e isso é ótimo, todos evoluíram bastante também como músicos e em relação a equipamentos. As empresas de som e os técnicos estão procurando se adequar e já sabem como trabalhar com bandas de rock, mas isso demorou e era um problema sério por aqui. E dia de Segunda tem a rua da Cultura, uma idéia bacana e democrática.



MuzPlay: O que a Snooze tem escutado?



Rafael Jr.: Sempre escutamos de tudo sem preconceito, é hábito nosso ouvir som o dia todo, trocar disco, garimpar bons sons seja num sêbo de vinil ou na internet. Eu mesmo me considero colecionador, hoje em dia dependente do cd-r por que não tem condição de comprar disco nesse país com o preço que estão praticando por aí. No release novo da Snooze diz que incorporamos influências de bandas como Guided By Voices, Flaming Lips, Nada Surf, Pelvs, The Who, Yo La Tengo e Wilco, entre outras. Em outros tempos, já citamos Sonic Youth, Pixies, Teenage Fanclub, Husker Du, Jesus & Mary Chain...já dá pra dar uma idéia do universo ligado ao som da banda, mas eu sou apaixonado por folk, jazz e música brasileira, acrescento aqui alguns “Toms” e “Bens”: Tom Waits, Tom Zé, Tom Jobim, Tom Verlaine; Ben Harper, Ben Folds Five, Jorge Ben.



MuzPlay: E esse projeto de um disco só de covers?



Rafael Jr.: Acabamos de gravar agora em Janeiro, também falta masterizar. Foi mais tosco, gravamos 12 músicas em 06 horas, ao vivo no estúdio. A idéia é fazer 02 volumes em formato EP/CD-R, com 06 músicas cada. Esse a gente não mandou pra ninguém. Mas já tem um monte de gente de pequenos sêlos interessada em lançar, acho que deve sair antes do CD até, por conta do custo baixo, vai ser bem mais simples e a arte também, nos moldes do que Big Bross de Salvador e a Musicland Recs (PE/PB) vêm fazendo. Dei a idéia de fazer quando Clinio Jr deu a notícia de que ia morar no Rio, pensei “e se a banda acabar?”, essas coisas... Um registro final da formação talvez (tomara que não), o fim de um ciclo e o início de outro dentro da banda... E principalmente, mostrar a importância e o significado que essas bandas tiveram para a Snooze e para nossas vidas. Tem Mutantes, The Who, Beatles, The Clash, Smiths, Violeta de Outono, Pelvs, Guided By Voices, Jesus & Mary Chain, My Bloody Valentine e umas vinhetas com trechos de Tom Waits e Ira! que ainda não sei se vão entrar. Tinha uma do Flaming Lips ensaiada que não deu tempo de gravar. Se vender até 500 cópias de cada volume, já tá bom... Acho que aproveitamos bem a estada de Fabinho aqui, de férias, concorda?



MuzPlay: Então 2005 será movimentado, né? Quais os planos?



Rafael Jr.: No primeiro semestre é correr atrás de lançar os discos, com atenção e cuidado especial para nosso 3º, autoral. As 2 tours que falei é uma questão de compromisso com nós mesmos, com a banda e com o sêlo que vai lançar. A gente precisa tocar bastante pra divulgar e vender a bolacha, é assim que funciona e as bandas independentes que mais vendem são as que estão na estrada, de maneira geral. O disco tá muito bom, é nosso melhor trabalho, gostaria que o maior número de pessoas possível, ligadas ao circuito independente ou simplesmente que gostem de boa música rock, pudesse ouvir. No mais é deixar a música nos levar.



Site Oficial: www.snooze.com.br



Por: Cícero Aldemi [http://www.eittanoise.blogspot.com]

Foto: Divulgação

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