
Como sempre fui um fiel seguidor da música e de tudo o que ela apronta, sempre optei por descobrir coisas novas e inusitadas. Isso implica: estilos quase incompreensíveis de se entender; músicos que compõem em cadências imitando fórmulas matemáticas (a exemplo do math-rock do Battles); outros grupos que incorporam a sonoridade usando grunhidos, vozes ininteligíveis e melodias nonsenses. Grupos que fazem uma mistura de todos os recursos possíveis, outros que apresentam o velho estilo do baixo-guitarra-bateria.
Mas, o que sempre me indago é: um disco totalmente instrumental é interessante? Consegue te nocautear como um álbum com belos vocais. Um belo exemplo: R.E.M totalmente instrumental perderia a sua graça sem a voz do carismático Stipe, não é? Mesmo com o talento inegável dos companheiros Mike Mills e Peter Buck. Isso, claro, tendo a noção que nos acostumamos aos vocais marcantes do crooner. Se for um disco longo, confesso que o mesmo possa soar enfadonho e não se segurar até os instantes finais. Possa desanimar o ouvinte. O que acontece aqui, em 43 minutos de muito instrumental, no caso do Baltic Fleet. Um projeto do músico Paul Fleming. Um cara desconhecido pela mídia, mas que até já participou de algumas turnês do Echo And The Bunnymen. Inclusive aqui, em Baltic Fleet, há participações do guitarrista do Echo, Will Sergeant.
Em 13 faixas, nada de vocais. Ou melhor, minúsculos momentos com vozes (3 faixas). Uso de samplers que resgatam vocais femininos etéreos e semi-inaudíveis (“To Chicago?) ou espécies de burburinho de vozes discursando (“Double Door” e “Hammer Blow”). Há de se observar ainda que cada peça instrumental remete a uma outra sonoridade já conhecida. Ou a uma época nostálgica. Seu cérebro vai remoendo clássicos que eram ouvidos ainda no tempo do vinil. As primeiras músicas - infelizmente o trecho mais encantador do álbum - resgatam essa sensação facilmente. A abertura com “Baltic Intro” mostra um chacundum roqueiro com clima à la turma de Madchester (Happy Mondays e Stone Roses, diga-se de passagem). A qualidade oitentista se faz presente na climática e vertiginosa “Black Lounge”. Consegue unir o melhor dos sintetizadores das bandas do techno-pop da época 80?s, um pouco de Kraut-rock e ainda mostra riffs de guitarras estonteantes e intermitentes a propósito de um Gang Of Four ou mesmo da classe de um New Order. “3 Dollar Dress” nos engana e nos remete às batidas e aos riffs de um Joy Division.
“Castellon Theme”, uma das mais bonitas da produção, parece algo tirado de algum disco do Durutti Column. E aquela percussão nos deixa a sensação de ser obra do virtuoso Bruce Mitchell (percussionista do próprio Durutti). Não bastasse isso, a música é envolvida por pianos sombrios e carrega em si traços da eletrônica minimalista - aquela que - bem empregada e deixa a composição com mais nuances possíveis. A melancólica e quase silenciosa ?48 Hour Drive (Boston)? deixa as guitarras de lado e trabalha mais com os pianos e sintetizadores. Algo que se encaixaria muito bem nas produções do Eluvium e do The Album Leaf.
A densa e curta “Reykjavik Promise” consegue aliar dedilhados de guitarra sobre camadas de sintetizadores furiosos. “Pebble Shore” seria trilha ideal de algum filme com tema no mínimo, onírico. Algo do Angelo Badalamenti, por exemplo. A sombria “Berlin 8mm Deep” valoriza mais os pianos límpidos.
Um álbum que, sem dúvidas, você volta a ouvir. Apesar de quê, pela segunda vez, você seja obrigado a pular umas 2 ou 3 canções. Uma certa fraqueza tendo em vista o que foi seu início arrebatador. Ficamos aí com a ideia de que 10 faixas seriam o ideal. De qualquer forma, Paul Fleming é um cara que tem visão para o passado da música. E que precisa ser observado no futuro. De tudo que resenhei até hoje, talvez essa seja a obra musical mais difícil de ser recomendada. Se você também pensa que um vocalista não faça tanta falta, se você quer revolver os campos musicais de sua mente e não se importa que a falta de letra seja trocada por competência e emoção, aí, sim, recomendo.
Banda: Baltic Fleet
Disco: Baltic Fleet
Ano: 2008
Gravadora: Blow Up/Cargo
Nota: 7,3