Otto + Bomba Estéreo
Entrada $60 - Lista Amiga $30
Porta 21h / Show 23h
Indie Festival
Após um intervalo de dois anos, o Indie Festival volta ao circuito musical carioca nos dias 9 e 10 de dezembro, no Studio RJ. Agora, em sua terceira edição a primeira sem a palavra ³rock² no nome , o evento abre espaço para atrações independentes de todos os gêneros. A programação internacional é composta pelos argentinos do Bajofondo Remixed (versão compacta do Bajofondo Tango Club) e os colombianos do Bomba Estéreo cuja apresentação no Rio, em 2009, foi considerada uma das melhores do ano. A ala nacional, por sua vez, é inteiramente representada por artistas de Pernambuco.
Enquanto China (atualmente VJ da MTV) mostra o show do seu segundo disco solo, OMoto contínuo¹, Otto faz a continuação da turnê de seu último CD, Certa manhã acordei de sonhos intranquilos.
Otto
Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos
Quarto CD da carreira solo do pernambucano Otto
Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos é o novo e mais esperado CD de Otto no Brasil.Lançado em setembro de 2009 nos EUA, o disco, que também circula pela Europa, foi lançado no país pelo selo Arterial Music (www.arterialmusic.com.br) com distribuição da Rob Digital.
O disco traz dez faixas, oito inéditas, com as participações especiais de Céu em “O Leite”, da mexicana Julieta Venegas em “Lágrimas Negras”, e de Lirinha em “Meu Mundo Dança”. Na banda estão Catatau (guitarra), Pupillo (bateria e percussão) e Dengue (baixo). A produção é de Otto em parceria com o Pupillo. A capa exibe uma escultura da instalação Laminadas Almas, do artista plástico Tunga.
Com o título inspirado na obra literária “Metamorfose”, de Franz Kafka, Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos é quarto trabalho da carreira solo do cantor e percussionista Otto, ex-integrante da primeira formação do Nação Zumbi e do Mundo Livre S/A.
O lançamento nos EUA rendeu matéria de destaque no jornal New York Times, com o título “Brazilian, but with a different beat”, na qual Otto é tratado como dono de um talento único pelo repórter Larry Rohtter, que fez elogios e recomenda o CD.
“Transformação continua sendo a palavra-chave de Otto. Ele amadureceu, viajou e leu bastante. Foi exposto à novas influências e tornou sua rede mais ampla. Tanto que a música eletrônica agora é apenas um dos ingredientes de seu abrangente repertório.”
(Larry Rohtter, New York Times)
Das dores do mundo e da doce vingança de estar vivo e de novo
*Por Xico Sá
- Você está ai?
A pergunta no escuro, na faixa “Meu Mundo Dança”, vem carregada de uma saudade difusa, de um desejo agoniado que gira no tic-tac dos ponteiros que se repetem até não se acertarem mais. Como a agulha no velho vinil tentando cavoucar as ranhuras para recuperar a beleza possível de uma trilha amorosa assanhada por um redemoinho.
Acordar transformado em barata, como se vê na Metamorfose do Kafka, livro do qual saiu o título deste disco, aqui ganha uma sensação ou sentido de “caiu a ficha”, epa!, peraí, ouve-se na radiola, na jukebox, uma canção melancólica com ecos e “samples” de promessas espatifadas.
Caiu a ficha e há um grito amplificado – “não se esqueça, dói” - da estranheza de estar no mundo e acordar de sonhos intranqüilos. Ao contrário do Gregor Samsa, o personagem kafkiano, o protagonista Otto não se entrega à inércia do quarto invernoso onde também nasceram flores. Quem disse que o amor não vai? (“Agora sim”). Sabe disso e masca o jiló da existência, esperneia, pinota, oferece mimos a Iemanjá (“Janaína”) e recicla – “quando eu perdi você ganhei a aposta”, como canta na música “O Leite”, na companhia da cantora Céu, lindíssima elegia para uma batida final de porta, a mais simples e dolorida sonoplastia do fim das coisas.
É preciso sim haver a tranqüilidade na clareira do caos, como recita Lirinha, do Cordel do Fogo Encantado, outro parceiro do CD, na faixa citada na cumeeira desse texto.
Acabou chorare, tá tudo lindo.
Nas cinzas de “6 minutos”, ecos de um aflito Ronnie Von das antigas com a “dor canalha” de Walter Franco pregada no mesmo céu da boca. Aí fia tudo pronto para uma seqüência perfeita de Jorge Mautner: “Tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento”.
Nestas ditas “Lágrimas Negras” e em “Saudade” – arranjo pontuado pela bela cafonice auto-irônica da canção popular movida a cuba libre – Otto interpreta com a cantora mexicana Julieta Venegas.
O trinado genial do disco, assumindo a nossa moral de sacanear com o próprio sofrimento e buscar a raparigagem desmedida, é obra do guitarrista Catatau (do grupo Cidadão Instigado), do baixo de Dengue e do baterista e co-produtor Pupilo, magos da Nação Zumbi que pisam o milho e peneiram o fino xerém da malícia.
Uma bela síntese da aurora pós-sonhos intranqüilos talvez esteja em “Filha”: “Aqui é festa, amor, e a (ou há?) tristeza em minha vida”.
Para tocar no cabaré, no botequim, na churrascaria, na laje, na barraca da praia ou na piscina com os amigos, tem que ser “Naquela mesa”, clássico de Sérgio Bittencourt que arrancou lágrimas paternas, maternas e filiais na voz de Nelson Gonçalves.
- Ei, você está ai?
Então escute um disco que junta o absurdo da vida do caixeiro-viajante da Metamorfose com as inquietações, bijuterias e esmeraldas de um galego mascate que corre o mundo com mercadoria de primeira. Quando a vida dói, drinque caubói, eis o mantra, a dose de delírio diário. Com direito a uma dancinha colada de safadeza, dizeres no ouvido, raparigagem e doce vingança de estar vivo para contar aventuras e desventuras dos próximos episódios que nos bolem por dentro.
*Xico Sá é escritor e jornalista.